And you can't smoke in any of this coffee places...I'm pretty sure coffee was invented by people who were smoking anyways. And they just wanted to invent something so they can stay up late and SMOKE FUCKIN' MORE! That's my theory. Just ask me or Columbo, he'll back me up on this one.» Denis Leary

Tuesday, September 23, 2008

Nighthawks

Ficou olhando o quadro de Edward Hopper ali na sua frente, Night life e descobriu pasmada que nunca esse quadro teve tanta significação como nessa noite. O limpo e banal café de esquina de uma rua vazia de Nova York, o café quase vazio (só três pessoas no balcão) com o empregado de uniforme branco-azulado lavando coisas debaixo da torneira, xícaras? A longa fila dos banquinhos vazios contornando o balcão, tudo visto do lado de fora, através da comprida vitrine de vidro. O silêncio sem moscas. O vidro sem poeira.


Lygia Fagundes Telles


E esse quadro estranhíssimo de um café noturno em alguma esquina de algum beco em Nova York. Havia vermelho mas nesse café até a cor vermelha era fria. A solidão medíocre.


Telles, Lygia Fagundes - As Horas Nuas

Wednesday, September 17, 2008

“La Apestosa” - José Luís Cuevas

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I stay at the bar, alongside two other alone strangers. I see Nora and La Chihuahua and greet them in the distance. Eva comes down from the dark floor above, an elderly gentleman follows her. Nora sees her in the stairs and says – “You fucking Eva, did you do it two times? Eva jokes, and answers back “No, four”, she leaves her purse on a table and goes to the toilets, the gentleman washes his hands, she comes back and rinses her mouth (her oral caressing abilities are well known and have made Eva famous). Alcohol and sex, things around here can be summed up in those two words.

So what brings me here, to this small sanctuary of men and women over-enthusiastic about booze and lust? Why go to “La Apestosa” (the Smelly one) instead of any other place?

Tuesday, September 02, 2008

Uma bica bem cheia

O homem fixara o olhar nos lavabos do café. E conseguia ver.
Na entrada da porta masculina, nítida, e a preto e branco, uma cabeça coberta de chapéu à d’Artagnan, com bigode e pêra. Não vivera ele em tempo algum, o século desses homens de farta cabeleira, chapeirão de foles e pluma alçada, bigode descaído sobre o pelame em bico que descia do queixo. Mas o homem sabia: D’Artagnan, o grande sedutor.
Na porta ao lado, o recato das damas era sinalizado num perfil de caracóis enfunados, os lábios gordos e de perversas formas, feitos para ciciar à beira da carne e da cama. Exemplar de cabeça que deixa marca no lençol, carne em ombros de cobre claro e deixa marca nos dedos de quem os apalpa: Antonietas.
Ele olhava as portas dos lavabos e remexia, sem baixar a vista, os dois pacotes de açúcar na chaveninha branca com o preto do café a transbordar para o pires. Uma bica bem cheia, foi sempre o seu pedido.
Seriam, e ele que tão pouco tempo demorou na vida a contar o tempo, umas duas e pouco de uma tarde de outono.
Três domésticas, eram o seu pano de fundo.
Crocheteavam numa dobadoira da língua, e olhavam-no num tiro incerto de mistério que lhe chegava ao peito como uma medalha póstuma.
Açúcar, muito açúcar. Dois refinados pacotes para os amargos de boca dos seus noventa anos.


Armando Silva Carvalho

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