And you can't smoke in any of this coffee places...I'm pretty sure coffee was invented by people who were smoking anyways. And they just wanted to invent something so they can stay up late and SMOKE FUCKIN' MORE! That's my theory. Just ask me or Columbo, he'll back me up on this one.» Denis Leary

Thursday, October 09, 2008

cafés onde me aconteceram coisas esquisitas:

o Café de la Paix, por exemplo, junto à Ópera, onde um dia um estranho vizinho de mesa tentou convencer-me de que o meu físico assentaria bem num casaco igual ao que Yves Montand usava no seu último filme; o Café de flore, onde travei uma fugaz conversa com Roland Barthes, que me contou que, depois de 30 anos como cliente de bar, a empregada da caixa tinha-o visto na televisão e ficou a saber que era escritor e tinha-lhe pedido um livro com dedicatória e ele decidiu- uma vez que ela o tinha visto em algo tão visual como a televisão- oferecer-lhe O Império dos Signos, o seu único livro profusamente ilustrado; o Café Blaise, onde me fez efeito um LSD de uma potência notável e pouco faltou para não ser assassinado por uma namorada muito malvada; o Café Aux Deux Magots, onde sem mais nem menos o arquitecto Ricardo Bofill me disse não sei quantas vezes que era muito mais fácil dar nas vistas em Barcelona, mas muito mais difícil- “como o estou a conseguir precisamente agora”, repetia a todo o momento- triunfar em Paris; o Café La Closerie des Lilás, onde adquiri o hábito de me sentar na mesa noutro tempo habitual de Hemingway e sair sempre sem pagar; o Café Bonaparte, onde acompanhado de Marie-France (travesti tipo Marilyn Monroe que estava a rodar comigo Tam-tam, um filme underground de Adolf Arrieta) vi com grande assombro como um louco furioso entrava no estabelecimento com um martelo e escolhia ao acaso um dos clientes para lhe assentar uma contundente pancada no crânio que o deixou estendido e morto; o café que fica perto do cruzamento da rue du Bac com o boulevard Saint-Germain, onde Perec recomendava que nos sentássemos para observar a rua com um esmero um pouco sistemático e a anotar o que víssemos, o que nos chamasse a atenção, obrigando-nos a nós mesmos a escrever “inclusive o que aparentemente não tem interesse, o que é mais evidente, o mais comum, o mais opaco”.


Enrique Vila-Matas

1 comment:

Anonymous said...
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