- Um café, se faz favor - disse a jovem mulher.
- E para o senhor? - perguntou a empregada.
- Deixe-me ver - disse o homem. Olhou bem para a empregada, que lhe sorriu docemente, de um modo quase infantil.
- Não se importa que eu peça uma coisa diferente?
- Claro que não, diga à vontade. Embora nós aqui fora não tenhamos grande escolha.
- Eu também não estou a pensar em nenhuma iguaria.
- Oiça lá - inclinou-se a jovem mulher para ele. - Se mais uma vez não consegue comportar-se, vou-me embora.
De duas em duas, ou de três em três semanas, iam tomar café, sempre no mesmo pequeno bar de Buda, perto da estação de eléctrico, por baixo dos castanheiros.
- Olhe Alizka, você pediu café. Deixe que eu também mande vir o que me apetece.
Virou-se para a empregada.
- O meu problema é que não me lembro, de repente, do nome daquilo que queria pedir.É assim um líquido escuro.
- É uma bebida alcoólica?
-Não, não. Se me lembro bem, trouxeram-mo num copo de vidro. E também me lembro que estava quase a ferver. Portanto, não era uma bebida alcoólica.
- Receio que não a tenhamos.
- Nem posso acreditar - disse o homem. - Não será possível perguntar à sua camarada gerente?
- Sim, com certeza. Mas digo-lhe já que eu trabalho aqui há cinco anos - disse a menina, que foi lá dentro à pressa.
- Estou a ficar farta do seu comportamento - disse a jovem mulher irritada. Ela não gostava de dar nas vistas. No autocarro virava-se sempre para a janela. Nem sequer tinha coragem para trocar um par de sapatos se estes lhe apertassem os pés. - Se não acaba com isso, vou para casa.
- Ainda nem sequer me contou da Jugoslávia.
- Nesta disposição nem consigo falar-lhe nisso.
A empregada aproximou-se sorrindo.
- A camarada gerente pergunta se a bebida não era castanho-
-clara.
- Não, senhora. Era quase preta.
- E onde foi que a tomou pela última vez?
- No Gerbeaud.
- Já receávamos! - riu-se a empregada. - Pois, então, a Gerbeaud é uma pastelaria de luxo, de primeira classe. Mas nós, como o senhor vê na placa, somos uma pastelaria de segunda classe.
- Espere aí! - disse o homem. - Agora estou a lembrar-me que com aquilo também me deram uma colher pequena. E mais uma coisa. No pires, uns pequenos cubos brancos.
- Cubos? - olhou a empregada para ele. E depois desatou-se a rir. - Há cinco anos que estou cá, mas nunca houve um pedido assim. Cubos! - riu-se novamente.
- Não se poderia perguntar à camarada gerente?
A empregada foi, mas à porta olhou para trás, pôs a mão na boca e riu-se.
- Só fica contente quando as pessoas se ocupam de si? - perguntou a jovem mulher furiosa.
- Nem pensar, Alizka. Nem assim fico contente. Bom, mas como é o tal Bled?
- Não finja que está interessado pelo Bled. Era melhor dar-se conta do que está a fazer.
A empregada voltou. Atrás dela vinha a gerente: caveirosa, de óculos, com um livro de Hemingway pouco conhecido na mão, intitulado In our time.
- Estou a ver o problema - disse ela, com delicadeza.
- Mas, por favor, não faça caso do assunto - disse o homem.
- Nós gostamos de satisfazer os nossos velhos clientes. De que tipo eram aqueles cubos?
- Se bem me lembro, eram brancos. E de tamanho bastante pequeno.
Estas entreolharam-se. A jovem empregada, que agora não se atreveu a rir, só casquinou baixinho. A gerente, por seu lado, continuava séria.
- É muito aborrecido, mas o que posso fazer? Não temos cubos de nenhum tipo.
- Não é assim tão importante - disse o homem.
- E também não conheço o líquido de que se trata.
- Deixe lá - o homem fez um gesto de desistir com a mão.
- Traga-me também um café.
István Örkény
And you can't smoke in any of this coffee places...I'm pretty sure coffee was invented by people who were smoking anyways. And they just wanted to invent something so they can stay up late and SMOKE FUCKIN' MORE! That's my theory. Just ask me or Columbo, he'll back me up on this one.» Denis Leary
Thursday, November 12, 2009
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