And you can't smoke in any of this coffee places...I'm pretty sure coffee was invented by people who were smoking anyways. And they just wanted to invent something so they can stay up late and SMOKE FUCKIN' MORE! That's my theory. Just ask me or Columbo, he'll back me up on this one.» Denis Leary

Wednesday, October 28, 2009

Não, penso, o mundo que eu queria que recomeçasse a existir em torno
a mim e a Franziska não pode ser o vosso; queria concentrar-me para
pensar um lugar em todos os seu pormenores, um ambiente onde gos-
tasse de me encontrar com Franziska neste momento, por exemplo um
café cheio de espelhos em que se reflictam lustres de cristal e uma or-
questra toque valsas e os acordes dos violinos venham serpentear por
cima das mesinhas de mármore e as chávenas fumeguem e haja pastéis
de nata. Enquanto lá fora, do outro lado dos vidros embaciados, o mundo
cheio de pessoas e de coisas faria sentir a sua presença: a presença do
mundo amigo e hostil, as coisas com que nos alegramos ou contra as
quais nos batemos... penso-o com todas as minhas forças mas já sei que
elas não bastam para fazê-lo existir: o nada é mais forte e ocupou toda
a terra.

Italo Calvino, in "Se numa Noite de Inverno um Viajante"

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Friday, October 23, 2009

I thought I

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saw Liz Taylor, Bob Mitchum in the Backroom of the Commercial South Bank, 1984
Graham Smith

POR VOLTA DOS ANOS 70

A malta pedia a Deus um salão de bilhar e andava à pancada todas as sextas-feiras à noite mesmo no meio da estrada, impedindo o tráfego. Sem facas, armas de fogo ou correntes. Só ao murro. Ninguém estava ali para levar aquilo a sério. Não era como os combates de rua nas grandes cidades. Os bailes em Diligent River atraíam sempre imensa gente e, como nos velhos tempos do El Monte Legion Stadium, por dá cá aquela palha rebentavam violentas brigas entre vilórias rivais. O grande culpado disto tudo era o tédio. Nem empregos nem salões de bilhar, dez gajos para uma miúda que, regra geral, era um coiro, péssimas estações de rádio, só velhos a morrer e bêbados, festas de caridade, um baile por mês onde nem sequer se dançava rock, uma máquina de discos que nunca mudava de repertório, invernos cobertos de neve em que fazia um frio de rachar e verões encobertos. A coisa mais empolgante que podia acontecer era alguém matar um alce ou um urso, mas até isso era muito raro. Foi então que chegaram os americanos. Primeiro a conta-gotas e, depois, uma autêntica enxurrada. Desertores, criminosos, tipos fugidos das cidades que cresciam por toda a parte. Estranhas publicações pornográficas começaram a circular pelas aldeias. Páginas inteiras, às cores, cobertas de pichas e conas, mamas e cus. O cheiro a drogas impregnou a atmosfera como uma brisa marítima. A música de rock and roll vibrou baixinho e acabou por explodir estrondosamente do lado das florestas, abafando o ruído das serras mecânicas. Surgiram cabanas de índios e esquisitas construções em cúpula de cores berrantes. Estandartes com longas fitas esvoaçavam nos campos para grande espanto dos corvos. Monstruosas motas pretas todas cromadas chafurdaram nas picadas. Estampidos de choppers e hogs rugindo através das aldeias de pescadores. Cartazes dos Rolling Stones colocados nas paredes dos celeiros e das igrejas. Raparigas da terra tatuadas em sítios que nunca nos teriam passado pela cabeça. A Polícia Montada foi alertada, mas as coisas já iam demasiado longe. Já não se conseguia distinguir a rapaziada canadiana da americana. Toda a gente a foder e a chupar, a fumar charros, a chutar e a dançar. E, muito ao longe, podia-se ouvir o barulho da América a rachar e a despenhar-se no mar.


Sam Shepard


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clientes habituais

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Sento-me no café

Sento-me no café com o meu caderno de apontamentos e as ideias a girar. Está imenso frio e com o piloto automático ligado, abano o pequeno pacote que retiro do pires e o açúcar salta para cima de mim e gira à minha volta. Um casal de pé ao balcão farta-se de rir da minha figura a sacudir o açúcar por todo o lado. Deve andar por aí um anjo que me fura os pacotes porque me quer ver elegante e bonita.

Maria João Lopes Fernandes

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Monday, October 19, 2009

Uma vigília para Sam, BBC TV

Conheci Samuel Beckett em 1961 em Paris quando a minha peça,
O Encarregado, estava a ser montada. Entrou no hotel a andar
realmente muito depressa. Tinha uma passada viva e um aperto
de mão rápido. Foi extremamente amigável. Já conhecia a sua obra
há muitos anos, claro, mas isso nunca me levou a pensar que guiasse
tão depressa. Conduziu o seu pequeno Citroën de bar em bar durante
a noite toda, realmente muito depressa. Acabámos por ficar num sítio
em Les Halles a comer sopa de cebola às 4 da manhã e eu estava por
essa altura de rastos - devido, suponho, ao álcool, ao tabaco e à exci-
tação - com indigestão e azia, portanto pus a cabeça em cima da mesa.
Quando ergui os olhos tinha-se ido embora. Não fazia ideia de para
onde é que ele tinha ido e pensei: «Talvez tudo tenha sido um sonho.»
Acho que adormeci em cima da mesa e cerca de quarenta e cinco
minutos mais tarde a mesa estremeceu e lá estava ele e tinha um
pacote na mão, um saco. E disse: «Andei por Paris inteira à procura
disto. Finalmente encontrei.» E abriu o saco e deu-me uma lata de
bicarbonato de sódio, que realmente fez maravilhas.

Harold Pinter

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Thursday, October 08, 2009

Comprava o jornal e, com um pequeno suspiro de alívio, sentava-se a lê-lo no café, em geral na mesa junto à vitrine, de onde podia ver quem passava na rua. Na altura de pagar trocava sempre com o empregado algumas impressões sobre as notícias. Pelo menos sobre futebol, desastres de viação, aumento da criminalidade, ou sobre as guerras que havia no mundo. Entendiam-se bem sobre o futebol, porque eram do mesmo clube, e quanto aos desastres, à criminalidade e às guerras, era consolador verificar que não tinham absolutamente nada a ver com eles. Partilhavam, portanto, opiniões e sentimentos, verificava com prazer. Batia-lhe no ombro, ao ir-se embora, e deixava de boa vontade uma gorjeta.

Teolinda Gersão


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